Com a ampliação das transações econômicas, a moeda surge como resposta para a necessidade de trocar em um curto espaço de tempo. Assim, através dela, diferentes mercadorias se equivalem em valor, independente do seu valor de uso – a utilidade objetiva que cada produto carrega em si. No desenvolvimento das nações e nosso sistema produtivo atual, elas representam a quantidade de valor produzido pelo trabalho, garantindo possibilidade de investimento em trabalho futuro, com o crédito.
Sem moeda, era necessário escambo e essa troca depende de interesses muito específicos, alguém que produz casacos e quer comprar queijo, precisa encontrar alguém que produz queijo e precisa de casacos. Em ordem para acelerar esse processo, a moeda assume três aspectos básicos: meio de troca, unidade de conta e reserva de valor.
Meio de Troca: permitir a comercialização e transações de diferentes mercadorias através de apenas sua mediação. Quem produz casacos pode vender por moeda e, com a moeda em mãos, pode comprar queijo – sem que o produtor de queijo se interesse por casacos. Ou seja, ela elimina o escambo.
Unidade de Conta: a representação precisa ser em algo valorável, contável, em que os diversos agentes econômicos possam precificar e determinar todos os bens da economia a partir dessa mesma unidade, que com ampla aceitabilidade, se torna a moeda corrente de um determinado espaço.
Reserva de Valor: a moeda precisa guardar em si seu valor para pagamentos futuros. Reter poder de compra e de investimentos pode-se perder em períodos hiperinflacionários, mas precisa ser uma exceção e não a regra.
E há também uma função implícita, a “no questions asked”, em que todos os envolvidos na transação compreendem automaticamente que o valor corresponde exatamente a si mesmo – R$50,00 vale R$50,00.
Como as moedas digitais como o BitCoin se encaixam nesses conceitos e definições?
De maneira crítica, podemos observar alguns desafios, principalmente para as criptomoedas.
Para o BitCoin, a instabilidade criada por sua demanda volátil mina seu potencial como dinheiro. Além disso, o Bitcoin dificilmente cumpre as funções desejadas do dinheiro: 1. O armazenamento estável de valor, pois sua taxa de câmbio em relação a outras grandes moedas é extremamente volátil e sujeita a massivas apreciações e depreciações; 2. Meio de troca eficiente, sua blockchain descentralizada pode processar apenas 7 transações por segundo em média. 3. amplamente aceitos para liquidar transações, pois poucos lugares aceitam pagamento em Bitcoin ou em qualquer outra criptomoeda.
Além disso, a rede Bitcoin também consome uma enorme quantidade de eletricidade por ano, comparável ao consumo total de energia de um país inteiro como a Irlanda. Sendo considerado ineficiente em termos de energia e tem uma enorme pegada de carbono. E por causa de sua tecnologia blockchain, que carece de regulação e é descentralizada, o Bitcoin se tornou um importante instrumento para lavagem de dinheiro, proteção de riqueza, financiamento de atividades ilegais e meio de pagamento de ransomware.
Sendo assim, a comunidade BitCoin tem respondido de maneira a estabelecer suas minerações com energia renovável, ampliar sua capacidade de processamento e estabelecer divulgações e campanhas para o uso dessa criptomoeda – além de alguns interessados proporem regulamentações para dificultar seu uso em atividades ilícitas. Contudo, outras moedas digitais têm tido mais sucesso para lidarem melhor com a especulação financeira, como as StableCoins e as CBDCs – ainda que enfrentam problemas, principalmente na ampla aceitação e forma de produção através de blockchains.
O caminho e potência do BitCoin para se estabelecer enquanto uma moeda foi dificultado pelo seu uso enquanto ativo digital, que se estabelece a partir das riquezas e capital produzidos em outros setores. Contudo, as moedas digitais, conforme todo o processo de transformação digital e tecnológico avançam, ainda têm um longo caminho de desenvolvimento.
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